05 junho 2011

Debaixo da Mesa...- Aprendendo com os Pequeninos*** (série "empoeiradinhos)


(photo by MelBraga***)


Quer saber como foi ficar debaixo da mesa???
Não se apegue à baixa resolução... nem ao granulado da foto... deixe de lado a crítica da fotografa...
Liberte a criança que há em você...
Então verá as lagrimas... descobrirá o esconderijo... a cumplicidade e um outro ângulo da vida...



Hoje, vasculhando os velhos rascunhos encontrei entre meus "empoeirados", os rabisco de um momento muito especial...
Todos os anos na época do Natal, um grupo de amigos entrega presentes nas creches da cidade... e esse foi um dos magníficos momentos que vivi...

Entramos com o Papai Noel na última sala para a entrega de presentes...
Quando vi o pequeno escondidinho debaixo da mesa... não resisti à tentação de estar com ele...
Ali era o refugio perfeito... acho que Papai Noel nem pensaria num lugar daqueles... tão escondidinho e tão baixinho, que aquele homem grande de barba branca não conseguiria entrar...

Agachei pertinho dele... que sequer olhava pra mim... só balançava cabeça como quem diz "não " pra todas as coisas..
Não queria bala... não queria presente... nem carinho... nada...
Nesse instante ele se transformou no centro das atenções... foi então que percebi que ao invés de ajuda-lo, estava piorando as coisas... pois, fez-se grande barulho em volta dele...

Prevendo que seria muito complicado pedi pra Mamãe Noel brincar com a turminha... e mesmo tendo distraído os outros pequenos... devagarinho eles foram chegando outra vez... mas, agora era diferente... havia uma cumplicidade incrivel entre eles...um dizia:
"Não fica com medo não...Papai Noel foi embora e acho que não vai voltar"...
outros diziam:
" A gente ta aqui agora, e a gente não deixa ele te pegar"...

Perdi a noção de quanto tempo fiquei ali... só me dava conta do carinho... da cumplicidade... e de um universo que nós adultos não fazemos parte...
Algo tão puro e verdadeiro... que me fez pensar em tantas coisas... me fez pensar em aconchego... proteção... fragilidade.. .afeto... desprendimento e amizade...
Fui tirando as fotos sem pensar em enquadramento... iluminação... simplesmente em nada... só no momento e na lição que eles me davam....

Ali eu não era gente grande... pra ser sincera... era apenas mais uma peça no cenário... porque achei que não cabia interferir... mas, isso não me impediu de olha-los no mesmo plano...
Isso mesmo!!!
Sentada ali... quase debaixo daquela mesa, eu tinha a altura deles...
Éramos iguais... com corações diferentes...

Experimentei uma linguagem tão gostosa... tão diferente da que uso no meu dia a dia... experimentei um universo mágico... doce e muito especial...
Desde que o Rafinha se foi... nunca tive problemas em ficar perto dos pequeninos... esse contato nunca me abalou... ao contrário disso... adoro sentir o cheirinho deles... eles possuem cheiro de coisa gostosa... cheiro de renovação...( não me peça pra explicar...rss)

Sabe... quando eu assisti o filme "Antes de Partir"... o que mais me prendeu...foi exatamente aquela pergunta...
"O que deixamos de bom nas pessoas???...que transformações causamos ao passar pela vida delas...???"
Um dia desses estava lendo um dos trechos de Martha Medeiros... em que ela dizia que devemos ser pessoas "perturbadoras"
Sempre fui o que os seres humanos chamariam de "vendaval".
Não sei passar sem fazer um certo barulho...embora muitas vezes tente desesperadamente... (mas, cheguei a conclusão que é sempre em vão)...

No meu curso de Logística acabei me tornando oradora da turma...
Acho que foi um dos presentes mais incríveis... e uma realização para quem jamais se imaginou falar da alma (no improviso) diante de tantas pessoas...
Ate escrevi o texto... mas meu ser humano rebelde e indomável se recusou a usar palavras pré determinadas...
Como sempre... eu tinha que "ousar"...

Quando cheguei no curso de Jornalismo sendo uma das pessoas mais velhas da sala... decidi entrar muda... e sair calada. Prometi a mim mesma que nessa turma seria como aquela blusa "azulzinha" (que vc usa quando quer que ninguém lhe note)...
Não demorou muito tempo para o azul se transformar em vermelho carmim.
Não tem jeito, alguns traços de personalidade são irreversiveis...
Por isso considero tudo aquilo que fazemos... cada passo que damos... cada pessoa que entra e sai de nossas vidas... e sempre me pergunto se fui capaz de dar o meu melhor...

Quando vejo essas criaturinhas tão pequenas... tão sedentas de amor, fico pensando na fonte inesgotável que Deus colocou em nós... na força que surge quando parece que o mundo todo vai ruir...
Às vezes olho para trás... e penso que a vida é feita de escolhas...
Nós é quem decidimos o que vamos alimentar dentro do peito...

Todos os dias eu tento restituir um pedaço de mim que se perdeu com alguns acontecimentos...
Todos os dias eu domo uma fera... e abato um leão, porque se eu desistir...
Se eu não acreditar que Deus pode fazer nova, todas as coisas... terei perdido o que há de melhor em mim... a fé e o amor que tenho pela vida...

Ficar debaixo da mesa... significou muito, principalmente para alguém temerária como eu... que costuma ir de encontro ao perigo...
Às vezes é preciso se entregar e viver as fraquezas que possuímos ao invés de criar uma fortaleza à nossa volta , pois, podemos nos tornar prisioneiros de nós mesmos... sem permitir que outras pessoas verdadeiramente nos alcance...
Sabe, aprendi a viver com intensidade... e hoje não consigo ser diferente...
Como sempre digo:

É preciso fazer valer a pena cada lágrima... cada sorriso... cada segundo.. é preciso viver até a última gota...




* Algumas crianças não gostam de pessoas vestidas de palhaços, personagens e afins...
No caso desse pequenino, sua vontade foi respeitada e o Papai Noel deixou o presente com a professora.

Um comentário:

Blog de Ana Marly Jacobino disse...

Verdades incontestáveis nesta sua crônica em que a infância e o seu "EU" é posto a prova. Ficar embaixo da mesa as vezes é bom para todo ser humano virar uma criança. Ana Marly de Oliveira Jacobino a CaipiraciabANA